sexta-feira, 5 de março de 2010

Grupo comprova que colisão causou extinção de dinossauros

A colisão de um asteroide gigante contra a Terra é a única explicação plausível para a extinção dos dinossauros, disse uma equipe de cientistas na quinta-feira (4), esperando encerrar uma discussão que há décadas divide os especialistas.

Um grupo de 41 pesquisadores de todo o mundo reviu 20 anos de pesquisas para tentar confirmar a causa da chamada extinção do Cretáceo-Terciário, que criou um "ambiente infernal" há cerca de 65 milhões de anos, e extinguiu mais de metade de todas as espécies da época.

Além do asteroide, outra possibilidade cogitada era a atividade vulcânica na atual Índia, onde uma série de supererupções durou 1,5 milhão de anos.

O novo estudo, publicado na revista "Science", mostrou que a culpa pelo fim dos dinossauros é de um asteroide de 15 quilômetros de diâmetro que caiu em Chicxulub (México). "Isso desencadeou enormes incêndios, terremotos medindo mais de 10 na escala Richter e deslizamentos continentais, que criaram tsunamis", disse Joanna Morgan, do Imperial College londrino, coautora do estudo.

A colisão teria liberado uma energia 1 bilhão de vezes mais poderosa que a bomba atômica de Hiroshima.

Segundo Morgan, "o último prego no caixão dos dinossauros" ocorreu quando o material da explosão voou para a atmosfera, envolvendo o planeta na escuridão e causando um inverno global ao qual muitas espécies não conseguiram se adaptar.

Os cientistas analisaram o trabalho de paleontólogos, geoquímicos, climatologistas e geofísicos. Com base nos registros geológicos, eles descobriram que na época da grande extinção houve uma rápida destruição dos ecossistemas marinhos e terrestres, e que o asteroide "é a única explicação possível para isso".

Peter Schulte, também autor do estudo, da universidade alemã de Erlangen, disse que os registros fósseis mostram claramente uma extinção em massa há cerca de 65,5 milhões de anos --época conhecida como fronteira K-Pg.

Apesar das evidências de vulcanismo ativo na Índia, os ecossistemas marítimos e terrestres só mostraram mudanças limitadas nos 500 mil anos prévios à fronteira K-Pg, sugerindo que a extinção não ocorreu antes e não foi motivada pelas erupções.

Gareth Collins, outro coautor do Imperial College, disse que a colisão do asteroide criou um "dia inferno" que marcou o fim do reinado de 160 milhões de anos dos dinossauros --mas também acabou sendo um grande dia para os mamíferos.

"A extinção KT foi um momento-chave na história da Terra, o que acabou abrindo caminho para que os humanos se tornassem a espécie dominante na Terra", escreveu ele no estudo.

Ontem, examinando os restos do asteroide que caiu no México, um grupo brasileiro rechaçou que uma lasca de asteroide da família Baptistina seria a responsável pelo extermínio dos dinossauros, conforme indicava um trabalho internacional em 2007.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Meteoro extinguiu dinossauros, diz maior estudo sobre o tema

Cientistas responsáveis pela maior revisão dos estudos sobre a extinção dos dinossauros afirmam que podem confirmar que o impacto de um asteroide sobre a Terra, na região do México, teria sido responsável pelo desaparecimento dos animais, há 65 milhões de anos.

Há 30 anos, a teoria domina os estudos sobre os dinossauros, mas permanecia sem confirmação, com alguns especialistas afirmando que a extinção poderia ter sido causada por uma erupção vulcânica na Índia.

Mas uma revisão de 20 anos de estudos sobre o assunto realizada por um grupo de 41 cientistas de 12 países sugere que há provas suficientes não apenas para apoiar a teoria do asteroide, mas para descartar outras teorias vigentes sobre a extinção dos animais.
Impacto e destruição

A revisão, publicada na edição desta sexta-feira da revista científica Science, sugere que o asteroide tinha dez mil metros de diâmetro e atingiu a Terra a uma velocidade de cerca de 20 quilômetros por segundo.

O impacto teria ocorrido na região da península de Yucatán e teria liberado um milhão de vezes mais energia do que qualquer bomba atômica testada. Dados analisados de imagens de satélite indicam que a cratera de Chicxulub, que tem 200 quilômetros de diâmetro, seria o local exato do impacto.

Segundo os pesquisadores, o impacto liberou grandes quantidades de água, poeira, gases e partículas de carboneto e fuligem, o que teria causado um bloqueio da luz solar e o consequente esfriamento da Terra.

Ainda de acordo com os cientistas, a grande quantidade de enxofre liberada pela colisão contribuiu para a formação de chuvas ácidas na terra e nos oceanos e também teria tido um efeito na queda de temperatura.

"O impacto de Chicxulub foi uma perturbação extremamente rápida dos ecossistemas da Terra, numa escala maior do que qualquer outro impacto conhecido desde que a vida surgiu na Terra", disse Sean Gullick, um dos autores do estudo.

Além dessas consequências, os cientistas ainda fizeram simulações em laboratório e revisões de estudos anteriores para afirmar que o impacto do asteroide ainda teria causado terremotos, tsunamis e incêndios.

"O impacto causou um tsunami muitas vezes maior do que a onda que se formou no Oceano Índico e atingiu a Indonésia em dezembro de 2004", afirmou o geólogo marinho Tim Bralower, da Universidade de Penn, que participou do estudo.

"Essas ondas causaram uma destruição massiva no fundo do mar", afirmou.

De acordo com os cientistas, além de ter provocado a extinção dos dinossauros, a colisão causou o desaparecimento de cerca de 70% de todas as espécies que habitavam a Terra na época.
Camada de argila

O estudo sugere que um dos argumentos mais fortes que apóiam a teoria, além da escala do impacto do asteroide no solo terrestre, seria uma camada de argila encontrada em diversas amostras do solo do período Cretáceo e Paleogeno e estudada desde 1980 após ter sido descoberta pelo geofísico Luiz Alvarez.

Essa camada é rica em um elemento chamado de irídio, abundante em asteroides e cometas, mas dificilmente encontrado em grandes concentrações na superfície da Terra.

Além disso, a camada ainda possui uma faixa de cerca de um metro onde não há fósseis de dinossauros ou de outros animais, o que poderia indicar um desaparecimento repentino.

Segundo os cientistas, essa camada de argila é encontrada em todos os sítios com amostras da fronteira entre os períodos Cretáceo e Paleogeno no mundo, o que demonstra que o fenômeno foi "realmente global".

De acordo com o estudo, nenhuma outra teoria existente sobre o fim dos dinossauros remete à extinção em massa de espécies entre esses dois períodos de maneira tão global quanto a do impacto do asteroide ou apresenta mecanismos para explicar como houve uma mudança biótica tão abrupta.

"Combinando todos os dados disponíveis de diferentes disciplinas científicas nos levam a concluir que o impacto de um asteroide há 65 milhões de anos no que hoje é o México foi a principal causa de extinções massivas", disse Peter Schulte, que liderou o estudo.

Segundo ele, apesar das provas, dificilmente a discussão sobre o desaparecimento dos animais será interrompida pelo resultado dessa revisão.

"Nós desenvolvemos um caso forte, mas as discussões vão continuar. Eu acredito que isso é basicamente ciência e nunca podemos dizer nunca", afirmou.



* Asteroide "Baptistina" não foi o causador da extinção dos dinossauros, diz dupla brasileira:

Asteroide acusado de extinguir os dinossauros é inocentado
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RICARDO MIOTO
da Folha de S.Paulo

O principal suspeito de ter sido o asteroide que levou os dinossauros à extinção acaba de ser inocentado do crime. A defesa foi apresentada por uma dupla de astrônomos do Rio.

O trabalho que eles contestam ganhou projeção em 2007. Na época, um trio internacional propunha um culpado pelo extinção dos dinos, há 65 milhões de anos. Relacionaram o episódio com outro muito anterior, de 160 milhões de anos, quando um asteroide gigante se chocou com outro entre as órbitas de Marte e Júpiter.

A trombada resultou em várias lascas voando para todos os lados -a família Baptistina de asteroides. Uma delas teria vagado por 95 milhões de anos pelo Sistema Solar antes de se chocar com a Terra.

"Sem chance"

Mas o novo estudo mostra que "não tem nenhuma chance de ter sido ele", segundo Jorge Carvano, astrônomo do ON (Observatório Nacional).

Ele observou, com Daniela Lazzaro, também do ON, o 298 Baptistina, que é o "asteroide pai", do qual as lascas foram arrancadas. Medindo quanta luz ele reflete (o albedo), souberam mais sobre as suas características e compararam-nas com as do objeto que atingiu a Terra, levantou uma nuvem de poeira que causou as extinções e deixou como vestígio a cratera de Chicxulub (México).

Os dados não batiam. "Existem materiais que refletem menos luz, como carvão, e mais, como gelo. O albedo não permite que se diga exatamente qual a composição do asteroide, mas dá para afirmar que ela não bate com a do objeto que se chocou com a Terra", afirma Carvano.

O asteroide que caiu no México refletia pouca luz (albedo baixo). O 298 Baptistina, muita (albedo alto). Os resultados serão publicados na revista científica "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society".

"O grupo do estudo de 2007 não faz observação. É um grupo que faz pesquisa teórica [ou seja, modelos matemáticos], eles levantaram hipóteses bastante forçadas", diz Carvano.

Além disso, em uma escala de milhões de anos, o albedo influencia o movimento do objetivo, por causa das forças que são criadas pela interação com a luz do sol. "[O grupo de 2007] não sabia qual era o albedo e assumiu um valor errado." Ou seja, a lasca apontada como culpada deve ter feito um caminho bem diferente do imaginado.

A origem do objeto que acertou a Terra volta, então, a ser uma dúvida. "Pode até ter sido um cometa", diz Carvano.

* do UOL Ciência